Gostemos ou não, e a
despeito do fato de esse domínio não ser produto de um acordo, nem da qualidade
do idioma, mas de desenvolvimentos geopolíticos e culturais (principalmente do
fato de que a Inglaterra e os Estados Unidos da América terem ocupado papel dominante
entre as nações no século XX), é um fato que o inglês é a língua franca da
ciência – e dos negócios, o que são coisas interligadas, embora isso não venha
ao caso aqui.
Durante a Idade Média
até o início da Idade Moderna, o latim era a língua universal da ciência, por
causa da influência do Império Romano e da Igreja Católica. Por exemplo: no
século XVII, Isaac Newton, Descartes e Leibniz – três influentes matemáticos,
cientistas e filósofos – escreveram suas principais obras em latim. Agora é a
vez do inglês!
Por isso, para ensinar
e para pesquisar, em qualquer área, é necessário no mínimo saber ler
textos em inglês, para poder acompanhar o que é feito na respectiva área do
professor ou do pesquisador.
Todavia, saber inglês
não é suficiente para fazer um bom trabalho: em alguns casos, que discutirei em
outra postagem, é necessário saber, no mínimo, além do inglês, também outros
idiomas.
No Brasil, o Sistema
WebQualis classifica os periódicos científicos de todas as
áreas conforme sua qualidade e importância – em outra postagem pretendo
discutir os critérios usados para isso. Em ordem crescente, da pior
classificação para a melhor, os periódicos são divididos em C, B5, B4, B3, B2,
B1, A2 e A1 (o topo do ranking brasileiro). A atual lista dos periódicos A1 da
área de direito inclui 56 periódicos; desses, 21 têm nomes em inglês, incluindo
o Brazilian Administration Review,
que é um periódico brasileiro; esses nomes são uma estratégia de
internacionalizar o periódico e sugerem fortemente que eles aceitam papers (artigos) em inglês, embora isso
só possa ser confirmado com cem por cento de certeza caso a caso no respectivo
periódico – o não quer dizer eles talvez não aceitem papers em outros idiomas. Outros nomes da lista estão em português,
francês, espanhol e alemão – ainda assim, são periódicos que em regra aceitam
publicações em inglês. Há, por exemplo, a Revista
Direito GV, da Escola de Direito de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas, que aceita artigos, resenhas e ensaios escritos em português,
espanhol ou inglês. O Archiv fur Rechts- und
Sozialphilosophie, um reconhecido periódico alemão que
está na lista dos A1, aceita artigos em inglês, alemão, francês e espanhol.
Existe uma
classificação internacional chamada SCImago Journal &
Country Rank, que utiliza a base de dados Scopus –
uma das usadas pela CAPES e CNPq para avaliar os pesquisadores brasileiros.
Nesse ranking, na atualização mais recente, de 2014, os
50 primeiros periódicos da área de direito são dos Estados
Unidos, do Reino Unido ou da Holanda – e mesmo os holandeses são em inglês.
Esses exemplos deixam
claro que, se um pesquisador quiser saber o que está acontecendo em sua área
ou se quiser publicar em periódicos de impacto e relevantes (acompanhados pelos
melhores pesquisadores do mundo numa área), ela terá de ter o domínio do inglês
tanto na leitura quanto na escrita – nesse último caso, é possível encomendar
uma tradução, digamos, do português para o inglês, a fim de submeter um artigo
para publicação; no entanto, isso não é desejável e deve ser evitado, por
motivos óbvios, inclusive gastos financeiros.
Além disso, congressos
e eventos acadêmicos internacionais são, na maior parte dos casos, em inglês. Se um pesquisador quiser fazer uma comunicação num congresso, por exemplo,
provavelmente precisará saber falar e compreender sons em inglês – o que
obviamente também lhe será útil para se comunicar com seus colegas.
Diante desses fatos,
deve ter ficado evidente que para um pesquisador, inclusive na área de direito,
o inglês é fundamental. Porém, talvez essa exigência não esteja totalmente
clara para quem precisa ensinar. Na verdade, é simples: no Brasil, não há
propriamente a profissão de pesquisador, então professores são também
pesquisadores, em muitos casos; além disso, ensinar exige, entre outras coisas,
o domínio dos conhecimentos de sua área, especialmente das disciplinas que o
professor leciona, então o docente precisa estar a par do que é produzido em
sua área; e, para isso, ele ou ela precisa saber inglês!
Verdade!
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